O que o Senhor achou de tantos deputados acusados de corrupção invocar seu Santo Nome em vão? Pelo amor de Mim, um horror! Meu Filho se lembrou dos fariseus hipócritas, aquela raça de víboras.
O Senhor não está sendo muito rigoroso? São todos cristãos! ― Cristãos eram também Hitler, Mussolini, Franco, Salazar e Pinochet. Posso não me intrometer muito nas mazelas humanas, mas uma coisa é certa: ninguém me engana. Não vejo cara nem coração. Fico de olho é na intenção. Mas pelo menos, nesse mundo tão descrente, foi um sinal de que ainda há quem creia no Senhor. Creem da boca pra fora e de olho no dinheiro pra dentro do bolso, ou de algum paraíso fiscal. Muitos ali adoram o bezerro de ouro, o deus do poder, da soberba e da demagogia. Falam em paz e apoiam a bancada da bala. Pregam o amor ao próximo e estimulam a homofobia. Carregam a Bíblia debaixo do braço e escorraçam de suas terras índios e quilombolas, pescadores e lavradores, para espalhar o gado.
Pecado é a falta de amor. Onde há amor, aí me faço presente.
Mas há textos bíblicos que condenam a homossexualidade.
Sim, como há outros que mandam passar ao fio da espada adeptos de outras religiões, como hoje faz o Estado Islâmico. Cada texto precisa ser lido dentro de seu contexto. É no mínimo desonestidade intelectual tirar pretextos preconceituosos de versículos bíblicos escolhidos segundo motivações que negam a qualquer ser humano a ontológica sacralidade de ter sido criado à Minha imagem e semelhança.
Mas o Senhor não se sente lisonjeado com a bancada da Bíblia? ― Nunca deu certo a religião pretender monitorar a política. Por isso meu Filho entrou em choque com Pilatos e o Sinédrio judaico. Há quem julgue que o Cristianismo converteu o Império Romano no século IV. Foi contrário: Constantino logrou tornar a Igreja uma instituição imperial. E isso resultou em rupturas que hoje o papa Francisco tenta costurar, e na Inquisição, que pretendeu impor a fé a ferro e fogo. Política, Estado e partidos devem ser laicos. Todo fundamentalismo é nocivo. Lembre-se que meu Filho acolheu a mulher samaritana, considerada herege pelos judeus; a mulher fenícia, tida como idólatra; o centurião romano, adepto do paganismo, ressaltando a importância da tolerância religiosa.
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